Sunday, March 08, 2009

Juan Miró e eu

JUAN MIRÓ E EU

Não sei o caminho. Não sei a estrada, não sei as setas, nem o vento. As estrelas não me guiam e sinto o desespero do vazio que me anda a levar, lentamente, para algures. O sonambulismo em que me deixo ficar é perturbado por estes momentos. Dias em que desperto e os meus olhos já estão abertos, em que a respiração se adensa e me sinto perdida.
Os meus sonhos depressa me deixaram e a realidade entra pelas frestas da janela, dizendo-me que há algo em mim que não descansa, que não dorme e não dormiu enquanto (iludida) sonhava, entre os meus períodos REM e não REM.
Porque sou só mais um ser vivo que (não é sorte, nem azar, são as leis da vida e os acasos dos encontros) nasceu e agora, e por enquanto, respira, age, fala e vê. Mas o ser mais um na multidão não me descansa, não me faz pertencer. Porque, vista de longe, aliás, vista de qualquer parte sou nada mais que mais um ser que caminha, pensando se o que vestiu hoje combina, se a faz distinguir-se mas ao mesmo tempo pertencer, o que dirá se alguém a interpelar, par onde irá a seguir e o que o amanhã lhe reserva. Mas cá bem mais perto, cá bem dentro onde ninguém consegue entrar, sou um ponto preto no meio dos brancos, um asterisco onde só há cardinais.
Tento seguir a norma, procuro saber o que ela é infringir as coisas para me sentir relativamente especial e do contra, mas acabo por me enganar a mim mesma, acho. Na realidade não sei do que gosto, o que realmente me faria feliz. Sei de um futuro que tento desenhar e aspirar, mas acho que não passam de tentativas de me enganar a mim mesma, de criar uma personalidade que gostaria de ver num filme, uma rotina cheia de variações. Que me fizesse perceber o meu lugar, o meu papel nesta longa-metragem. Sou um quadro de Miró ainda sem título e sem moldura. Apenas uns rabiscos que podem vir a ser o que se quiser. O que cada um quer ver, verá. Se quer ver uma pessoa feliz, inteligente, animada, vê. Se quiser ver alguém assustado, negativo e frustrado, também há, também mora aqui.
E isso deixa-me confusa. Não saber qual o meu prato favorito, não saber o livro que me define nem o que gosto de fazer nos meus tempos-livres. Não saber o que me relaxa quando estou uma pilha de nervos nem saber o que me emociona. Não ter certezas do que amo, do que mais gosto. Não saber nada de mi, estar perdida cá dentro. Saber que posso fazer o que quiser, posso, é verdade, vir a ser o que bem queira, o problema é não saber simplesmente o que quero.
Deixo que o destino me leve, nesta marcha sonâmbula. Que me mostre o que quero e não quero ver. Que me dê a sensação de que fiz escolhas, que não sou só um fantoche nas mãos de alguém. Que nada acontece por acaso e que os erros que cometi não foram (só) estupidez minha: foram o que tinha de ser.
Personagens com uma estrela, números e contelações em amor com uma mulher…tudo depende do que quiseres ver, meu caro. No fundo, não passam de rabiscos.